REVIVER A MINHA AMADA TERRA

Queria que as chuvas da minha terra,

Me deixassem cair na minha cama,

Cama de ferro e colchão de palha,

Onde nasci e cresci.

Correm nas minhas vísceras vermelhas,

Rios de águas claras da minha terra.

A minha pele deixa de ser branca,

Fica negra com as queimadas

Que iluminam os céus

E espalham cinzas pelos matos.

Nos dias quentes das planícies

Ao cair do forte cacimbo,

Sinto o cheiro da terra húmida

A minha mente é uma floresta

Que trouxe comigo

E que está em permanente transmudação,

Tomada por recordações

Que se perderam no tempo.

E ficaram para trás.

Receio maior ser picado pelas cobras

Que já não me conhecem

E com que convivi e adormeci,

Eu na minha cama,

Elas por baixo, nosso estado de alma.

Segredam-me ao ouvido os papagaios,

Abraçam-me os chimpanzés,

Saúdam-me com gorjeios os pássaros,

A todo o momento os pressinto,

Neste meu labirinto.

Labirinto em que me meteram,

Cuja saída não encontro,

E de que não me liberto,

Meu permanente confronto.

Ruy Serrano - 25.04.2015

Ruy Serrano
Enviado por Ruy Serrano em 25/04/2015
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