...ASSIM CAMINHA MARIA. Caps I a VII
...ASSIM CAMINHA MARIA.
I
É noite ainda. No céu a lua voa
Ela se levanta é hora do batente
Ordenha a vaca. Faz o café e a broa
No fogão a lenha muito contente...
Da janela de pau a pique sente
O vento e uma sensação boa
Deixando-a numa leveza transparente
Nos cabelos faz do pano sua coroa
Pensativa vê sua casa almagra
Bebe o leite de Dora sua cabra
Para fortalecer sua cria
O sol nasce acariciando-lhe o rosto
Prepara seu material com gosto
E segue para o campo Maria.
II
Sua casa, já nas vistas, pequenina
Caminha tão leve e sem cansaço
Mais parece uma levada menina
Sobre as costas o material de aço
Chegando à roça, a terra insemina
Lia sua vaca rasga o chão num só traço
Puxando as relhas, não desanima
Marcha alegre no mesmo compasso
No alto diversos pássaros cantam
Todos juntos orquestram a melodia
Em homenagem à heróica Maria
Ela e sua prole felizes os reverenciam
Sobre a sagrada Terra dançam
Num ritual hipnótico: sua alquimia
III
Tanta Terra de vista a se perder
Léguas a caminhar por muitos dias
Pois, não há neurose pra correr...
No fim do verde céu lá está Maria
Arando a terra. Feliz assobia
Fertilizando a vida sem fobia
Trabalho árduo. Ali todo o querer
Tudo o que planta é para comer
Maria, observadora, passa a entender
Como ela, Mãe-Terra faz nascer
A vida eterna de cada dia
Sobre a barriga enorme Maria
Acarinha a prole que batia:
“Calma, em breve aqui tu irás viver"
IV
Usando como abrigo a árvore amiga
Maria, o cachorro atrás do coelho, observa...
Aliviando o cansaço, feliz se conserva...
Deitada sobre as raízes na sombra fica
Sonhando com a vida de Adão e Eva
Trabalhando a terra que só dignifica
E que certo homem sem alma danifica
Ao semear em seu âmago, do mal a erva...
Mas, como ser de todo puro e benevolente...
Numa Terra liderada pela ambição
E onde só contabilizará o mais valente?
Maria nisso não pensa, pois nada entende...
Por que este certo homem de coração
Carrara, nenhum valor dá ao próprio chão...
V
Com a panela na calejada mão
Maria desamarra o pano de algodão
Agradece ao Deus de teu coração
E come a bóia fria com sofreguidão
Cachoeiras de gotas cristalinas
Rompem os brilhos de tuas meninas
Maria se lembra daquela data natalina:
“Como pôde tantas línguas ferinas
Açoitarem com cólera o Homem
Que tanto lutou para o fim da fome
E buscou levar à todos eterna Paz?”
A resposta está no âmago do homem
De tão pequeno, pobre e infeliz faz
Reinar sobre esta singular Terra: o aqui jaz
VI
A tarde chega e nos confins o poente
Maria de volta para sua casa
Parece estar nas nuvens sem asas
Contemplando o rubro degrade aguardente
Em passos matemáticos Maria valsa
O mundo nojento, promíscuo e doente
De seu Mundo não é parte, nem adjacente
A bela selvagem o meio abraça
Não faz, não pensa, nem espera o amanhã
Não trava lutas, nem em si mesma há conflitos
Sempre está doando seu coração aos aflitos
Vive de bem com todos, nunca com atritos
Imaculada e com inocência morde a maçã
Em seu interior, prazer não é pecado, Maria é sã
VII
Todos os animais a esperam na cancela
Com exceção do seu homem bicho
Que fugiu daquela vida lixo
Armado de muitas quimeras e uma gamela
Nunca mais voltou a pensar em Maria
Pelo poder acasalou-se co’a Quimera
E à sociedade vingou toda sua miséria
Do sangue chupado, fez-se fera
Morreu o humilde José; Agora deputado
Seu passado, mantém em si sepultado
Toda fome que teve, virou ódio
José faz questão de se mostrar revoltado
Tem por oficio vitalício ficar no pódio
Fome, escravidão e dor são o seu ópio
_________________
Quando o homem perceber que nasceu para ser impar, escolherá melhor a sua alma gëmea!
em breve novos capitulos do destino de Maria.
(Estou aceitando sugestões para o destino de Maria)