Subida da igreja

“Meu senhor me dê uma esmola,

não tenha pena de dar,

que tem mais Nossa Senhora

e São Francisco pra lhe dar.”

Ladeira de pedra tosca,

velho palco desse refrão,

partindo da velha boca

de um velho sem ter visão.

Manoel, cego e voz rouca

subia em busca de pão.

E era um desfile diário,

de noite, o povo a passeio,

colégio fazendo ensaio,

menino fazendo rodeio.

Estávamos em mês de maio,

estava Maria no meio.

Nos carnavais, as meninas,

em blocos, subindo ou descendo,

confetes e serpentinas,

rapazes jogando acenos.

Viesse uma chuva fina,

que clima, que gozo pleno!

Estando em mês de setembro,

desfiles e bandas de música,

De cima, o povo descendo.

_ Dom Pedro não suja a blusa!

Em raios de sol ardendo,

não dê piripaque na rua!

Nas festas da Igreja Matriz,

a ladeira virava uma ponte.

Subindo, (promessa que fiz,

espero, essa rua não conte).

Segredo é o que não se diz.

Quem tem não revela fonte.

Tem gente que aqui amou,

tem gente que aqui se ofendeu,

gente que se acidentou,

passou por aqui quem morreu,

cortejo de morte passou,

lamento subiu e desceu.

Subida pros batizados,

subida pros casamentos.

Desceram cabeças de gado

pro abate em tristes lamentos.

Gente indo a pé ou de carro,

montada a cavalo ou jumento

Nas festas de fim de ano

saindo pra Missa do Galo,

o povo sorrindo e cantando,

sorriso de um povo animado,

tertúlias se anunciando,

no sábado, o povo embalado.

Domingo de feira animando,

descendo a ladeira apressado.

A rua é Padre Constantino,

subida da Igreja matriz.

O povo descendo ou subindo,

lembranças de um povo que diz:

_ “Quem deu uma esmola, sorrindo

Fez velho, fez cego feliz”.

José Freire Pontes
Enviado por José Freire Pontes em 26/09/2016
Código do texto: T5773062
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