FRAGMENTOS DE SÃO MARTINHO

(Quadras sobre provérbios tradicionais)

- “A cada bacorinho vem o seu São Martinho”.

Anda, anda bacorinho

Vai comer da fresca relva

Aproveita o São Martinho

Para fugir da tua selva.

- “Em dia de São Martinho atesta e abatoca o teu vinho”.

Apura bem o teu vinho

Não o deixes minguar

Se o provas no São Martinho

Bebe-o sem embebedar.

- “São Martinho bebe o vinho, deixa a água para o moinho”.

Para o pão ficar limpinho

Do moinho as águas movem

Mas chegando o São Martinho

Só bom vinho bebe o homem.

- “No dia de São Martinho, fura o teu pipinho”.

Nem todos sabem furar

Na adega o seu pipinho

E se o vinho não se poupar

Não dará pro São Martinho.

- “No dia de São Martinho, come-se castanhas e bebe-se vinho”.

Às vezes comem-se nozes

E outras coisas estranhas,

No São Martinho dizem as vozes

Não há nada com´ as castanhas.

- “No dia de São Martinho, lume, castanhas e vinho”.

Sentemo-nos aqui ao lume

Castanhas e vinho à maneira

Com São Martinho já´ é costume

Estarmos juntos à lareira.

- “No dia de São Martinho, mata o teu porco, chega-te ao lume, assa castanhas e prova o teu vinho”.

Por alturas de São Martinho

Na minha aldeia há matança

E há castanhas e bom vinho

Com petiscos de confiança.

- “No dia de São Martinho, mata o teu porco e bebe o teu vinho”.

Matar o porco não chega

No Verão de São Martinho,

É preciso trazer da adega

Uma boa infusa de vinho.

- “No dia de São Martinho, vai-se à adega e prova-se o vinho”.

Toda a gente vai à adega

No dia de São Martinho

Fêveras, castanhas à pega,

Regadas por belo vinho.

- “Pelo São Martinho abatoca bem o teu pipinho".

Se não sabes a abatocar

O pipinho lá de casa

É São Martinho a avisar

Que já tens um grão na asa.

- “Pelo São Martinho castanhas assadas, pão e vinho”.

Sejam cozidas ou assadas

Venham elas e mais venham

São Martinho serve-as dadas

Àqueles que as não tenham.

- “Pelo São Martinho mata o teu porquinho e semeia o cebolinho”.

Nem só o vinho é São Martinho,

Ele próprio o determina,

Há que semear o cebolinho

P´ la orvalhada da matina.

- “Pelo São Martinho prova o teu vinho; ao cabo de um ano já não te faz dano”.

Faz tua prova de vinho

Com uma branca caneca

Se não for no São Martinho

És totó levado da breca.

- “O Sete-Estrelo pelo São Martinho, vai de bordo a bordinho; à meia-noite está a pino”.

Venha de lá o Sete-Estrelo

Com o São Martinho a bordo

Já o careca tem cabelo

E o abade está mais gordo.

- “Se o Inverno não erra o caminho, tê-lo-ei pelo São Martinho”.

São Martinho é conta certa

Chega sempre o seu Verão

Vou-me já à descoberta

De uma outra diversão.

- "Se queres pasmar o teu vizinho, lavra, sacha e esterca pelo São Martinho".

Não quero pasmar o vizinho

Com mais uma trabalheira

Mas pedirei ao São Martinho

Que não mingue a esterqueira.

- “Verão de São Martinho são três dias e mais um bocadinho”.

Vindimar a tempo o vinho

É saber, sem complicar,

Pois que pelo São Martinho

Até o Verão tende a acabar.

- “Vindima em Outubro que o São Martinho mais te dará”.

Vindimar tarde demais

É prejudicial para o vinho

Comem os bagos os pardais

Pra desespero de São Martinho.

- “Não há bacorinho sem o seu São Martinho”.

S´ é fartura ter bacorinho,

E haver castanhas à farta

Pra alegria de São Martinho

Que entre nós ele a reparta.

- “Quem parte e reparte e não escolhe a melhor parte… ou é tolo ou não tem arte”

Ele há cortes e recortes

Em toda a economia séria,

São Martinho entre os fortes

Foi remédio pra miséria…

Aprenda-se com São Martinho

Este gesto-maravilha:

A quem pede dar carinho

E, já agora, uma partilha.

Quem no mundo tem poder

Olhe para o São Martinho

Do que não precisa de ter

Dê a todos um poucochinho.

Se os poderosos o não fazem,

Como o não faz quem é tolo,

Por entre misérias trazem

Para Humanidade dolo.

O São Martinho escolheu

Para si a melhor parte:

Se ele ao mendigo aqueceu,

Vejam lá se não teve arte!

Frassino Machado

In FRAGMENTOS POÉTICOS

(Quadras sobre provérbios tradicionais)

www.frassinomachado.net

Bibliografia:

Machado, José Pedro – O Grande Livro dos Provérbios, Ed. Notícias, 1996

FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 06/11/2018
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