O Não-Verbo
As palavras, as palavras.
Onde estão as minhas palavras?
Para onde foi o verbo?
Onde se esconde o meu idioma?
Conjecturas; elucubrações.
Lógicas incompletas.
Sentimentos embotados.
Sem vias de acesso.
As perguntas da psicanalista,
Não me dizem nada.
Não elucidam nada.
Não provocam nada.
A sintaxe é esquizóide.
A semântica é invertida.
Incapazes de descrever
Minhas indiossincrasias.
O pensamento labiríntico
Coloca-me à frente
De meus valores controversos
E princípios insustentáveis.
Quando confrontados aos desejos,
Desejos obssessivos,
O prazer é impossível.
O gozo é sem sentido.
Ao mesmo tempo em que libertino,
Sou o próprio executor.
Guardião dos portões.
Ceifador das pulsões.
O viver é inerte.
Sob motivações mutiladas.
Futuro no passado.
Passado fragmentado.
Para o abismo, falta pouco.
Hoje já olho para o nada.
Vejo um reflexo opaco,
Que cada vez fica mais claro.