O Não-Verbo

As palavras, as palavras.

Onde estão as minhas palavras?

Para onde foi o verbo?

Onde se esconde o meu idioma?

Conjecturas; elucubrações.

Lógicas incompletas.

Sentimentos embotados.

Sem vias de acesso.

As perguntas da psicanalista,

Não me dizem nada.

Não elucidam nada.

Não provocam nada.

A sintaxe é esquizóide.

A semântica é invertida.

Incapazes de descrever

Minhas indiossincrasias.

O pensamento labiríntico

Coloca-me à frente

De meus valores controversos

E princípios insustentáveis.

Quando confrontados aos desejos,

Desejos obssessivos,

O prazer é impossível.

O gozo é sem sentido.

Ao mesmo tempo em que libertino,

Sou o próprio executor.

Guardião dos portões.

Ceifador das pulsões.

O viver é inerte.

Sob motivações mutiladas.

Futuro no passado.

Passado fragmentado.

Para o abismo, falta pouco.

Hoje já olho para o nada.

Vejo um reflexo opaco,

Que cada vez fica mais claro.

Rafael Gonçalves
Enviado por Rafael Gonçalves em 27/09/2019
Código do texto: T6755585
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