Gitana
Minha alma cigana acordou desfiando lamentos,
oportunista desmoronou meus castelos
apagou as minhas cores e desfolhou minhas flores
transformou minha dor em vaidade,
meu grande amor em saudade,
dançou audaciosa nas minhas entranhas,
dedilhando seu violino em suaves melodias...
Aflorou tudo que guardei em segredo,
deflorou minhas verdades, até
esgotarem todos os meus sentimentos,
expôs as raízes, a duplicidade do meu coração,
rompendo minhas muralhas,
foi estilhaçando os meus espelhos
revelando cada caminho do meu labirinto...
Cansou talvez de sofrer sozinha,
adornar suas dores no seu xale rubro,
embriagada na sua solidão sepulta e escura,
e nesta fuga bramiu que nunca me pertenceu,
desnudou seus pudores para me acordar,
zombando de mim, não me consolou, pelo contrário
à revelia me olhou, sorriu seu escárnio e partiu!
Maria Antônia Canavezi Scarpa
(Inserida na Coletânea - "Versejando" - 2016)