Poema real

Vai, jão, vai Raimundo,

Caminha forte como o diado

na pressa de levar dor ao mundo.

Imundo, mudo, inundo.

Vai, José,

Leva a pé tua metade do mundo,

Corre antes que teus pés te enganem

E de tão pobres e sujos,

Te faltem no melhor segundo.

Vai, chico,

Chora como fosse o medo, apenas,

Teu grande inimigo,

E esquece a fome que insiste,

Maldosa, em judiar contigo.

Vai, Maria

Chega cheirando a suor,

Pega a roupa da bacia e esquece.

Deixa a colher e o pilão e luta.

Esquece a dor e fome que te machuca.

Quem dera todo poema mentisse, amigo

Quem sabe, então, não tivesse que sofrer

A cada verso que aqui lhe digo.