ventos de abril

me confundo

entre o celeste azul

da atmosfera

com o azul caribe de águas temperadas

não sei se acordei na Guerra Fria

não faço ideia se trupiquei

numa geladeira azul bebê

dos anos sessenta

pode ser que eu tenha

tomado um choque de um Blues,

saindo duma guitarra elétrica

ou talvez tenha levado

um choque de esquecimento

na cabeça roxa do tempo

num porão qualquer da ditadura

não sei se estou desmaiado

de ponta-cabeça

não consigo descrever

as cores da memória coletiva

meu corpo desaparecido,

desovado em águas internacionais

brota azulado numa cova brasileira,

asfixiado por desinformação

talvez esteja delirando

empacotado numa prateleira da havan

ou talvez as cores da mediocridade

desbotaram a Verdade,

calaram os gritos de dor da História

certa noite, embriagado

a Morte me confessou sua exaustão

revoltada, culpou

e apontou para a Indiferença

fazendo suruba com lobistas

no Camarote da Vacina

Eras que se misturam,

Crenças que se explicam

o Tratamento Precoce

é parente direto do AI-5

os ventos de abril

transitam pelos grupos de WhatsApp

testemunham o Culto do Negacionismo

atravessam Cemitérios e Quebradas

abençoam a luta travada nos Hospitais

assoviam o Blues da Piedade

Baco Trôpi Renton
Enviado por Baco Trôpi Renton em 08/04/2021
Código do texto: T7227227
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