Bicho Selvagem

Sonhava com a estabilidade, mas só encontrou uma cara cansada e doente em frente ao espelho

Dentro do seu quarto ela podia ser ela mesma

Um bicho selvagem

Os cabelos soltos formando um ar imponente

Os olhos semi cerrados encarando a própria imagem

Os pés nus no chão gelado

As mãos repuxando o rosto

Dedos inquietos

O mundo não a conhece como de fato é

Pensar ser assim tão inédita a deixava atônita

Que maldição ser um ser pensante

Onde nada no mundo o conhece além de si mesmo

Que destino solitário

Que deus cruel

Encheu-se os olhos de lágrimas pesadas

Se sentou na beirada da cama com as mãos cobrindo-lhe a face

Estava entregue a si mesma

E a Eu de agora já não era a mesma de um segundo atrás

E o futuro era uma grande incógnita

O que significava que havia uma versão dela que nem ela mesma conhecia

E houve uma versão dela que ela conheceu melhor do que ninguém no mundo

Passou as mãos pelos olhos fechados enxugando as lágrimas

Como era incrível ser um ser pensante

Ninguém no mundo, NINGUÉM, havia pensado uma bobagem como aquela

Sorriu sozinha

Se divertia como um bicho selvagem

Ardia em liberdade

De si mesma, do mundo e das coisas