Cidade Negra

Senti minha cabeça pesada

Enquanto sigo queimando

O Desejo de fogo

Nas mãos do inexistente amor

Num fundo preto

Estrelas cadentes caem do meu céu

Direto para o verde do meu coração

Que pulsa no copo

Sou um corpo encostado no balcão

Olhos acordados

As putas não têm nome

Queimaram o amor

Envolvida em poeira

Olhos acordados

Num fundo mais preto

Escrevo o desamor

O poema insiste

O salão está vazio

Com pés descalços

Recordo o calo

Que o tempo deixou

Como recompensa do salto alto

Que os dias deixaram

Como recompensa do estrago

Enquanto escalava a vida

No truque do destino

Não tenho mais nada a perder

Alfabeto em braile

Cega, procuro versos, em vão...

Não acho...

Minha blusa verde

Borbulhando nuvens de arranha céu

Num fundo azul mesclado

Calo em esquecimento

Onde meu amado?

Como recompensa a estrela recua

Amanheceu

Cheiro de mijo

Pulsando no mendigo

Queima a chama

Na mulher vadia

Desnuda o pecado carmim

Esclarecido o insólito da vida

O louco ri em trapos

Gargalha em farrapos

Calço-me de tristeza

Vago

Busco poesia

O louco pede um trago

Engasga na fumaça perdida

Tropeço no buraco

De novo lembro do calo

Ainda busco poesia

Cidade negra

O sol aponta

Cidade vazia.

Rose de Castro

A ‘POETA’

Rose de Castro
Enviado por Rose de Castro em 11/11/2007
Código do texto: T733327