Cidade Negra
Senti minha cabeça pesada
Enquanto sigo queimando
O Desejo de fogo
Nas mãos do inexistente amor
Num fundo preto
Estrelas cadentes caem do meu céu
Direto para o verde do meu coração
Que pulsa no copo
Sou um corpo encostado no balcão
Olhos acordados
As putas não têm nome
Queimaram o amor
Envolvida em poeira
Olhos acordados
Num fundo mais preto
Escrevo o desamor
O poema insiste
O salão está vazio
Com pés descalços
Recordo o calo
Que o tempo deixou
Como recompensa do salto alto
Que os dias deixaram
Como recompensa do estrago
Enquanto escalava a vida
No truque do destino
Não tenho mais nada a perder
Alfabeto em braile
Cega, procuro versos, em vão...
Não acho...
Minha blusa verde
Borbulhando nuvens de arranha céu
Num fundo azul mesclado
Calo em esquecimento
Onde meu amado?
Como recompensa a estrela recua
Amanheceu
Cheiro de mijo
Pulsando no mendigo
Queima a chama
Na mulher vadia
Desnuda o pecado carmim
Esclarecido o insólito da vida
O louco ri em trapos
Gargalha em farrapos
Calço-me de tristeza
Vago
Busco poesia
O louco pede um trago
Engasga na fumaça perdida
Tropeço no buraco
De novo lembro do calo
Ainda busco poesia
Cidade negra
O sol aponta
Cidade vazia.
Rose de Castro
A ‘POETA’