QUANDO EU ERA PEQUENO

Quando eu era pequeno nunca celebraram nenhum dos meus aniversários!

Nem de nenhum dos meus irmãos. Não havia este hábito na família, assim como também não rezávamos antes das refeições. Uma fotografia da pobreza, da vida rústica do campo e dos costumes simples daquela época.

Tampouco havia presentes, bolo ou guaranás. A data não existia para nós. Não condeno meus pais. Seus pais também não celebraram seus aniversários! Eles, com seus doze filhos, creio eu, que poderiam mesmo fazer isso, até para driblar a impossibilidade de presentear todos os filhos, todos os anos. Assim a data passava em branco como era de hábito em todas as famílias da época que viviam naquela pequena cidade. Contudo a ausência desta celebração tão comum nas famílias hoje em dia em nada empanaram a beleza de nossa infância nem influenciaram negativamente nossas vidas.

Na verdade, somente vim descobrir a importância desta data, quando me tornei pai e minha mulher que não teve esta ausência na infância dela, celebrava o aniversário dos nossos filhos. Foi então que percebi a alegria e a real importância que esta data tinha na vida dos pequenos.

Como as crianças a apreciavam e a celebravam! Como ficavam felizes com os presentes e com a festa! Percebi que não era uma celebração de um simples aniversário, mas era uma celebração da vida! Como foi marcante isso na vida deles! Um pingo de alegria e afirmação nos olhos que reafirmaram suas esperanças e ajudaram a marcar suas infâncias, por certo! Como se fosse um renascimento, uma alegria imensurável que se estampava nas suas almas a cada passagem de ano.

Hoje, entendendo isso como entendo, como gostaria de adentrar no túnel do tempo, nos meados da década de 50, quando tinha quatro ou cinco anos e andava com a cara suja de terra e manga e tinha uma alma impregnada de sonhos e poder apertar a mão daquele menino tímido e entregar-lhe um caminhãozinho de madeira ou algo assim e dizer-lhe: feliz aniversário, meu amiguinho e desejar-lhe toda felicidade do mundo! Falo isto, porque sei que aquele menino sonhava com um caminhãozinho de madeira. Ah como sei disso!

Que choque não seria para ele! Certamente seu coração pularia de felicidade e alegria dentro do seu peito magrinho!

Queria agora, se fosse possível, trazer este menino, para que eu lhe dê todos os caminhõezinhos possíveis, os carrinhos de rolimãs, as bolas de futebol e as bicicletas que lhe faltaram! Tragam também minhas irmãs, para que ganhem as bonecas que nunca tiveram!

Mas por outro lado, repenso, se as bonecas feitas com as espigas de milho verde com seus cabelos cor de mel, trançados cuidadosamente por nossa mãe e os carrinhos feitos com latinhas de sardinha vazias, puxados por boizinhos de sabugo de milho, não cumpriram seus papéis de embalar nossas fantasias?

Acho que sim e concluo que o que vale mesmo é a imaginação e a alma infantil entremeada pelos ventos da inocencia e o que o sonho mesmo seria voltar a ser criança e ter toda aquela candura no olhar, aquela verdade nos gestos, aquelas fantasias e o descompromisso com a maturidade, para que pudessemos todos nós irmãos, nos juntar numa ciranda de alegria e assim revivermos juntos nossos melhores momentos, numa ode de amor e lágrimas genuínas de redenção e contentamento!

Celio Govedice
Enviado por Celio Govedice em 23/12/2022
Código do texto: T7678465
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2022. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.