CANÇÃO BUCÓLICA

Grita forte o vento, que espanca o frágil vidro da janela indiferente

Corre a muda nuvem, que protege o passo estulto do ser desumano

Porque o medo da dor é bem pior que o sintoma do se estar doente

Porque o cristal do pudor se reflete na máscara avessa do profano!

Ruge de fome o predador, que sai à minha caça nas noites de meu suplício

Voa sem rumo o falcão, que perdeu as asas quando o calor de seu ninho lhe disse adeus

Porque a guilhotina está armada para decapitar a ação de meu sacrifício

Porque não importam quantos reinos tenham meus sonhos, eles sempre serão plebeus!

Foge apressada a noite, que se recusa ao beijo que lhe convida o dia

Desce maldosa a chuva, que inutiliza as sementes de meu arado

Porque batem palmas árvores irônicas, para minha hostil agonia

Porque me desencaminha a hipocrisia desse meu inútil cajado!

Corre para si esse poeta, que derrama pétalas sobre o mar

Ele não quer respostas, ele despenca do verso que tanto o iludiu

Ele canta a sua dor, afim de que o cego amor, sua aflição venha enxergar

Ele é o show de todas as constelações, que sua estrela jamais assistiu!

Reinaldo Ribeiro
Enviado por Reinaldo Ribeiro em 26/01/2008
Reeditado em 14/01/2012
Código do texto: T834242
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