ANDANDO NAS MONTANHAS
Andava nas montanhas,
Quando percebi o céu cinzento
E senti o forte vento
Deixando as aves assanhas.
Vem chuva, pensei.
Apertei o passo,
O tempo é escasso
E não posso molhar, bem sei.
Estava numa escarpa
Quando grossos pingos começaram a cair
Tive medo, não vou mentir.
Vesti a capa.
Parei por um momento...
Onde buscar abrigo?
A proteger-me me obrigo,
Ao menos do vento.
Uma reentrância na pedra.
Perfeito! Deu até para sentar.
Lá fiquei em quietude
Até a chuva passar.
Silenciou o vento,
O sol voltou um tanto acanhado,
E eu, ainda aninhado,
Percebi no momento
Que se encontrava a natureza
Em estado de encantamento:
O verde da mata estava mais verde;
Os pássaros voavam
E o canto sublime da vida, felizes entoavam.
O rio corria mais rápido,
Suas águas agora tinham cor
E da cachoeira se ouvia não só um rumor,
Mas um som forte, condizente com seu esplendor.
Micos passaram fazendo algazarra
Juntando o seu ao som estridente da cigarra.
Olhei o vale,
Também ele ganhou vida.
Já se via na fazenda
O trabalho na moenda:
Cana virando garapa,
Da pinga prima etapa.
A vida voltara ao normal,
Deixei o penedo,
Segui o caminho,
Já não tinha medo.