ANDANDO NAS MONTANHAS

Andava nas montanhas,

Quando percebi o céu cinzento

E senti o forte vento

Deixando as aves assanhas.

Vem chuva, pensei.

Apertei o passo,

O tempo é escasso

E não posso molhar, bem sei.

Estava numa escarpa

Quando grossos pingos começaram a cair

Tive medo, não vou mentir.

Vesti a capa.

Parei por um momento...

Onde buscar abrigo?

A proteger-me me obrigo,

Ao menos do vento.

Uma reentrância na pedra.

Perfeito! Deu até para sentar.

Lá fiquei em quietude

Até a chuva passar.

Silenciou o vento,

O sol voltou um tanto acanhado,

E eu, ainda aninhado,

Percebi no momento

Que se encontrava a natureza

Em estado de encantamento:

O verde da mata estava mais verde;

Os pássaros voavam

E o canto sublime da vida, felizes entoavam.

O rio corria mais rápido,

Suas águas agora tinham cor

E da cachoeira se ouvia não só um rumor,

Mas um som forte, condizente com seu esplendor.

Micos passaram fazendo algazarra

Juntando o seu ao som estridente da cigarra.

Olhei o vale,

Também ele ganhou vida.

Já se via na fazenda

O trabalho na moenda:

Cana virando garapa,

Da pinga prima etapa.

A vida voltara ao normal,

Deixei o penedo,

Segui o caminho,

Já não tinha medo.

Hegler Horta
Enviado por Hegler Horta em 15/12/2005
Reeditado em 16/05/2006
Código do texto: T86233