Impressões

Abrir os olhos nessa claridade talvez não seja tão difícil,

confrontar o desconforto de tanto tempo no escuro,

redefinindo cores e formas no movimento das paisagens,

observando crianças correrem atrás de pipas desgarradas,

sorrindo ao toque do vento nos cabelos da janela do trem,

desejando alcançar a rabiola presa na antena da TV,

esperando encontrar mais de mim mesmo nesse mundo...

Talvez não seja tão ruim pintar de amarelo as paredes da sala,

usando guache para fingir ser um artista como Van Gogh,

rodopiando as mãos em círculos sem uma direção correta,

deixando que respingos da chuva pela janela inventem desenhos,

deixando a liberdade correr pelos dedos até a palma da mãos,

ouvindo as folhas caindo no quintal no farfalhar dos pássaros,

simples assim como um dia à mais sem nada de mais acontecendo...

Contando o tempo para escalar a montanha que se instalou em mim,

desejando lá de cima observar o vôo de uma águia solitária,

abrigado por uma manta xadrês tecida nos contos de Penélope,

desejando ver a neve branca cair em flocos como nos filmes,

na câmera lenta do meu olhar em direção ao infinito cosmos,

fingindo ser o balanço da varanda meu Himalaia particular,

na leveza de vagalumes brincando de iluminar a noite no quintal,

tentando não pensar em fazer coisas certas, apenas deixar viver...

Abandonando verdades pré-concebidas em tradições anteriores,

entoando um assovio de uma cotovia numa noite Shakespeareana,

fazendo um upgrade de sensações tão esquecidas e bem vindas,

no sonho de uma ilha distante que acondicione minha trajetória,

impressões deixadas na areia à serem desfeitas por um mar bravio,

nos sentidos de um saber que precisa reaprender a entender,

para mais tarde no creptar de uma fogueira se aquecer do tempo frio...