RELÓGIO DE AREIAS

Pela janela aberta
vejo passar os sonhos.
São belos frutos maduros
polpudos...suculentos
tentando do lado de fora.

São lépidos, trigueiros,
brejeiros sonhos-romãs.
São alvas mãos pequeninas
tecendo coroas de virgens
pra festa de casamento.

Pela janela aberta
vejo passar os anos.
Eles fluem tão depressa
como um relógio de areias,
como um final de oração.

Fecho então a janela.
O sono é minha unção.


***

In  Catavento. Débora Novaes de Castro,
1994, p. 77