A valsa dos burros

eu vou pisar,

vou estraçalhar todos os colares

caducos

deslúcidos

entupidos de burrice

intragável

impagável

peço um sopro de lucidez

para banhar a mente desses zumbis

mal mastigados

ungindo em libertação

dos grilhões em formas de nuvens

de patinhos miudinhos

e de sorvetes coloridos

BLASFEMIA!

NINGUEM PODE SER LUA

NINGUEM PODE SER AURORA

NINGUEM PODE SER VERTIGEM

NINGUEM

NIN-GUEM!

EU CUSPO, EU CUSPO SOBRE ISSO

quando o espelho não da nas vistas

suas próprias palavras gozam

da sua cara, baixinho

enquanto seu peito palpita,

(inflando descompassado

as liras que são de açúcar

e nunca conheceram a chuva

e nunca dividiram uma luta

enquanto isso não machuca

e ralentando, perdura a quimera

eu arranco as pétalas vermelhas

nesse múltiplo colar de pérolas

mirando a faceta menina

eu cuspo

cuspo, banhando os enxurros

bem longe da lua e dos astros

eu ouço

distante, a valsa dos burros.

Augusto Guimarães
Enviado por Augusto Guimarães em 13/02/2006
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