A valsa dos burros
eu vou pisar,
vou estraçalhar todos os colares
caducos
deslúcidos
entupidos de burrice
intragável
impagável
peço um sopro de lucidez
para banhar a mente desses zumbis
mal mastigados
ungindo em libertação
dos grilhões em formas de nuvens
de patinhos miudinhos
e de sorvetes coloridos
BLASFEMIA!
NINGUEM PODE SER LUA
NINGUEM PODE SER AURORA
NINGUEM PODE SER VERTIGEM
NINGUEM
NIN-GUEM!
EU CUSPO, EU CUSPO SOBRE ISSO
quando o espelho não da nas vistas
suas próprias palavras gozam
da sua cara, baixinho
enquanto seu peito palpita,
(inflando descompassado
as liras que são de açúcar
e nunca conheceram a chuva
e nunca dividiram uma luta
enquanto isso não machuca
e ralentando, perdura a quimera
eu arranco as pétalas vermelhas
nesse múltiplo colar de pérolas
mirando a faceta menina
eu cuspo
cuspo, banhando os enxurros
bem longe da lua e dos astros
eu ouço
distante, a valsa dos burros.