DIA DOS PAIS
 
 
Vejo as mensagens chegando,
leio e vou salvando...
Meu coração de filha
não acelera, não cria asas,
não voa pela imensidão.
 
A emoção calada, quieta,
absorta num passado
que há muito o coração fez abortado.
Lembranças de um tempo
onde os dias eram de temporais
e  de constantes vendavais.
 
Tempo obscuro, medo do escuro
que ora não tenho mais.
Gostaria de inventar alegrias,
mas seriam hipocrisias...
Tempo sem carinho, sem comida,
sem afeto,
quase que sem teto...
 
Precisei de muito tempo para esquecer
o abraço que não ganhei,
a mão que não afagou meu rosto de criança
e a violência sem motivo, sem causa,
que marcou o corpo, entristeceu a alma.
 
Nada iria escrever, leria todas e arquivaria.
Mas...Este passado passou,
foi num ontem muito distante,
e minhas lembranças o escondeu
em prateleiras empoeiradas,
onde jaz o nada...
 
Infelizmente não são palavras bonitas,
mas o que importa agora,
o que é significativo e relevante
é que  sou sobrevivente, sou gente...
 
Meus sonhos não foram arrancados de mim,
o amor que era pequeno no meu coração
de criança não morreu,
cresceu em ilusões escondidas,
num mundo que criei só para mim.
 
Assim sobrevivi...
O meu amor filial
dedico ao mano véio,
que mesmo sendo menor de idade,
saiu e deu proteção, comida!
Cobriu a mãe e  seus cinco irmãos.
A ele, meu carinho, respeito e orgulho.
 
Ao meu marido, amante, amigo,
que  acendeu a chama
que dormitava dentro de mim
e que supriu  e supre todas as necessidades
dos nossos filhos
e também do nosso anjinho de cara pintada,
que nem conhece o pai...
 
Pelos dois decidi escrever,
digitei direto sem ter preocupação
com rimas e versos.
De uma infância adversa,
renasci poeta!

 
12/06/2006
Anna Peralva
Enviado por Anna Peralva em 11/10/2009
Reeditado em 07/07/2011
Código do texto: T1860083