FEMININA

Quando o olho arde

rio_mar transborda

deitam cachoeiras

sem dengo, sem mistérios.

Quando o peito lavra

poesia em cova rasa

enterra vis batalhas

nos madrigais e flores.

Quando o corte sangra

encharca o leito frio

a alma lava o dia

e há sol na meia noite.

Quando a carne nua

trêmula de espanto

da cruz carrega o fardo

fadada ao desencanto.

Quando a dor é pranto

e há pedras no sapato

ferida marca passo

muito mais se lança.

Quando em fases muda

feito lua prata

costura seus retalhos

e tece madrugadas.

Quando, atemporal

ressurge feminina

revira-se pelo avesso

com lágrimas de absinto.

Quando, sazonal

repõe seu adereço

do amor inventa a cura

termina em recomeço.

Fátima Mota

08/03/2010