tô chegando

Ele acordou

deu uma boa escarrada

pela janela

se acertou em alguém

foi bem feito

já era

do décimo quinto andar

um tiro certeiro

pode até matar

olhou no espelho

uma figura

aterrorizante

de desesperar

merece desprezo

por opinião particular

não dá para acreditar

em mim mesmo

não sou de confiança

nem um reflexo

daquele garoto

que aqui veio

pedir uma oportunidade

pra sobreviver

escapei daquela

mas como promessa eleitoral

não mudei

meu marketing pessoal

tomou conta de cavar

o buraco aonde cai

mereço relevância

certo de que

as palavras bonitas

que desaprendi

me tornaram maior

uma plataforma evolutiva

quanto mais eu lia

mas me perdia

esqueci tudo

do meu lado do mundo

as coisas eram menos confusas

em épocas passadas

fim de tarde

tomando chá

comendo bolacha de água e sal

sentado no sofá

esperando a hora do jornal começar

minha coroa chegava

e não tinha nenhuma queixa

ainda acreditava na mídia

na veja

na internet

agora olhe que peste

tem gente fuçando na minha vida

de lambuja

entreguei o ouro na mão do bandido

as provas são scraps

é o fim do dito por não dito

nem sei o significado disto

da passagem de tempo

que arrancou de mim

a vontade de que todos me leiam

não importa pra quem tem alma pequena

usa freio de burro

ou finge que pensa

e só segue a onda da convenção

importa pra mim

provocar outra interpretação

é no xingo do incompreendido

que enxergo o lindo

não me dou por vencido

me escute as horas

hoje a tarde não quer passar

peguei dois ônibus para chegar

e ainda não consegui estar

presente

espere e vera

o pesadelo do ocidente

mordendo fundo na carne

exibindo os dentes

é tudo o que temos no momento

se tu não gostou

toca pra frente ...

Marco Cardoso
Enviado por Marco Cardoso em 16/10/2006
Reeditado em 16/10/2006
Código do texto: T265985