SIGO UMA VIAGEM SEM FIM

Sigo uma viagem sem fim

nem sequer apeadeiro –

levo na noite um luzeiro,

que mostre partes de mim.

Uma perna um farto braço,

gesticulando impropérios,

derrubando vãos impérios,

com todo o meu embaraço.

Ouço bem perto a corrente,

de um rio bêbado de força –

e olhos de vidro duma corça,

sai do mato, num repente.

Longe vaia o corrediço susto,

que apesar do sol se mostrar,

fraco, fraquinho, a motejar,

inda vai a lua – inchado busto.

Mas eis a horizonte nado sol,

a aquecer-me os esqueletos:

é que não trago documentos,

digo-o baixo, ao lento caracol.

Vagabundo não precisa! Ora!

Nem falta pesará a ninguém!

Poeta é este, aquele, alguém,

coisas banais não são demora.

Assim sigo meu caminho meio

à Natureza e às fontes frescas –

belas moças trazem suas cestas

à cabeça e vejo um fugidio seio.

E é tudo tão natural que eu me

encho de preceito e de conserto,

cala-se a voz, em lance de acerto,

deixo fluir as coisas… e se… e se.

Começo a namorar uma menina,

recito-lhe fulgurante um poema –

o que procuro não são diademas,

mas o quê desta inquietude felina.

Jorge Humberto

21/01/11

Jorge Humberto
Enviado por Jorge Humberto em 21/01/2011
Código do texto: T2743638
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.