ENCANTADA POESIA


Nas incertezas do dia
conforta meu coração 
uma encantada poesia. 
Ao ver-me debruçada nessa solidão,
cruza a fronteira entre o abstrato e o concreto
e desenha no espaço vazio
a imagem do amado rosto.
 
Disfarço a dor do desencanto
num olhar suave, discreto...
Nas asas libertas da imaginação,
enxergo muito além
que um retrato exposto...

Na virgindade da folha de papel
há o encontro! Palavras se aninham
num acasalamento de total amplitude
e no sopro vivo da paixão, sou chama
que arde e se inflama
brotando luz em infindas auroras
que iluminam a escuridão.

Sou força, raça e garra!
Deserto tragado pelo
paraíso
onde na secura da boca
sorvo sedenta seus sorrisos.
Não mais me escondo,
nada mais há que eu tema
e por sobre os escombros,
nasce a mulher poema!...
Na quietude da noite que ronda lá fora,
meus versos encantam o silêncio
e qual visagem, o casulo de sonhos se abre!
Surge uma fresta onde a palavra invade
a penumbra e deslizo das sombras.

Dispo a veste rota da realidade,
cubro-me com seu manto argentado,
renasço completa e serena...
Dos quatro elementos, sou magia!
Desvio os olhos do tempo,
nas mais variadas formas de
expressão,
abandono o real que me é fatal
e desaguo nos braços da emoção.
Juntas somos Sol e Lua,
num eclipse imortal!
Assim sobrevivo... Essência nua!
Pois em minh’alma se eterniza
a beleza contida no ser mortal
que ressurge a todo momento,
concebida às duras penas
num último e derradeiro suspiro,
das cinzas renascida!

No abrigo do seu seio, sou vida em forma plena!
Amor que resiste, mesmo fragmentado...
E da saudade que me fez metades,
descubro um desvio na curva do horizonte...
Cubro a terra infértil com flores, aroma de felicidade
rego com lágrimas, orvalhos em mim cristalizados!

Sou livre e transparente
floresço de forma etérea!
Poeira do caminho que me pertence,
não permito deteriorar a matéria,
retorno ao começo da estrada...
Sou o meio do princípio
e do fim, sou Eternidade!


14/03/2007