LÁGRIMAS DE ARGAMASSA

Cedo acorda o homem de concreto

E eu sei que ele quem acorda o dia

Em segredo despede da família,

Chora baixo, seu sofrer é secreto.

Sai correndo pra cumprir o decreto

Que o patrão fez pra o seu sofrer diário:

NÃO COMER, NÃO BEBER E NÃO SALÁRIO,

NÃO AO SOL, NÃO AO CÉU E NÃO A PRAÇA.

Vê? As lágrimas são de argamassa,

As que brotam dos olhos do operário.

Gigante pela própria natureza,

O operário, maior que esta nação,

Planta milho, arroz, planta feijão,

Mas no prato só colhe incerteza.

Conhecido na sua redondeza,

Responsável que respeita o horário

É carta importante no baralho

Que esta nação descarta e amassa.

Vê? As lágrimas são de argamassa,

As que brotam dos olhos do operário.

Mas se um dia acorda sem serviço

E vê sua vida sair dos trilhos

Sem casa, sem escola pra seus filhos

Fica doido e pensa em sumiço.

Logo ele, que nunca pensou nisso,

Reza pra Deus, se apega ao rosário

E com tanto sonho fora do páreo

Ele chora e a mulher ele abraça.

Vê? As lágrimas são de argamassa,

As que brotam dos olhos do operário.

Mas Deus é pai e os seus filhos vê

E nos livra de toda tentação

Nem que seja um tantinho de feijão

Ele bota na cuia pra comer.

Nos devolve a vontade de viver,

Transformar o país do imaginário

Num país de justiça e trabalho

(Liberdade seria nossa taça),

Lenço para as lágrimas de argamassa

Que já cobrem o corpo do operário.

Prof Lucivaldo
Enviado por Prof Lucivaldo em 01/05/2013
Código do texto: T4268759
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