Negritude Escancarada

De terras longínquas eu vim,

Em terras extensas me colocaram,

Nessa imensidão sem fim eu plantei,

À custa de muito suor,

E sangue derramado.

Embora distante de casa,

A esperança não me abandonou,

Com meus irmãos e muita garra,

Busquei a liberdade,

Que um dia alguém me tirou.

Amontoado no porão de um navio,

Ouço lamentos sem fim,

De meus irmãos com saudades de casa,

Uma tristeza também se apodera de mim.

Meus olhos enchem-se de dor,

Fico cheio de temor,

Do que posso encontrar,

Nessa terra imensa,

Do senhor que me impõe suas leis,

Com crueldade intensa.

Onde encontrar os meus filhos?

Que o Senhor cruel separou?

Para jogá-los em terras estranhas,

Distante do meu calor.

Oh que vida sofrida,

Que levo junto a meus irmãos,

Somos castigados sem clemência,

Unidos pela força do grilhão.

Nossos deuses foram esquecidos,

Outro deus tenho que adorar,

Pela força do chicote,

Neles temos que acreditar.

Oxalá tenho esperança que um dia,

Nosso credo podemos praticar.

Nem tudo pode estar perdido,

Alguém surgiu para nos ajudar,

Dentre àqueles que nos submeteram a ferros,

Saiu alguém para nos acalentar.

Da lei que nos aprisionaram,

Criaram outra para nos libertar.

Primeiro foi nossos filhos,

Que o sonho da liberdade realizou,

Depois foram nossos pais,

Que essa tão almejada liberdade concretizou.

Finalmente fomos todos nós,

Que nosso sonho alcançou.

Mas nem tudo é um mar de rosas,

Para o nosso povo sofrido,

Distante da mãe África,

Em um mundo desconhecido,

O trabalho é para poucos,

E muito de nós preferiu ter morrido.

Eu tenho a esperança,

De um sonho realizar,

Viver sem preconceito,

E a liberdade plena encontrar.

Ser tratado de igual para igual,

Vivendo sem ter que mendigar,

Pelo que é meu de direito,

E dar uma vida digna para meus filhos,

Para que no futuro,

Eles possam se orgulhar,

Do passado de seu povo sem poder se lamentar.