HOMENAGEM ÀS MÃES INFELIZES

Em algum lugar em mim,

existe um eterno dia das mães,

que se renova a todo instante

e onde eu guardo

as mães infelizes.

Aquela que lançou seu filho ao rio;

aquela que o abandonou num cesto de lixo;

a que enterrou o corpo vivo,

ainda envolto em sangue e alimento,

num recanto qualquer.

A que interrompeu a gravidez,

ferindo sua alma,

em asséptica clínica de aborto.

A que bebeu infusão maligna;

para envenenar seu feto indefeso.

Ou a que, em tenebroso local,

e em desumanas circunstâncias,

com uma longa agulha infectada,

ou outro terrível instrumento,

feriu de morte o que antes era a vida.

Também a que viu seu filho tombar por algum assassino;

ou a que assistiu seu filho matar o filho de outra.

A que acompanha o seu filho em busca de trabalho,

ou aquele que, mesmo empregado,

não aufere o suficiente para o próprio sustento

e dignidade.

Aquela que vê definhar,

em álcool e droga,

o filho suicida.

A que acompanha sua criança lutar contra doença incurável.

A que, em vão, busca socorro.

Aquela que, na indigente morada,

ouve do filho o lamento da fome,

da miséria,

da falta de perspectiva

e de futuro.

A que assiste morrer seu filho de frio

ou inanição,

agasalhando-o e amamentando-o no peito

e ouvindo parar de pulsar

seu querido coração.

Ou asfixiado, ou envenenado,

pelas condições contaminadas

dos cortiços e das favelas.

Ou seqüestrados,

ou atropelados,

ou arrastados,

ou destroçados,

pela insanidade dos nossos dias.

Em mim,

essas doces mulheres,

mães infelizes

e seus filhos,

vivem como anjos.

Onde Deus,

Todo Poderoso,

as abençoa e guarda;

num gesto de ternura e perdão

que atinge a mim

e se derrama em nós.

Essas mães,

ali,

têm suas lágrimas

enxugadas pelos filhos,

que luzes,

adejam junto a elas,

beijando suas faces,

abraçando-as

e apertando-as ao corpo,

com inefável carinho,

pedindo-lhes que não chorem,

e também a ninguém,

porque que se acham bem ...

Dizendo-lhes,

que somos a parte,

inseparável,

de um indiscritível todo,

que não nos é dado compreender

e que devemos aceitar.

E que ninguém é senhor absoluto

dos próprios atos

e destino.

E neste lugar em mim

e em todos nós,

"a morte não existirá mais,

e não haverá mais luto,

nem choro,

nem dor,

porque passou o que havia antes.

Pois eis que se fizeram novas

todas as coisas." (*)

(Apocalipse 21, 1-5a).

Para encontrar

esse lugar em mim

e em você,

onde habitam as doces mães infelizes

e seus filhos anjos de Deus,

devemos tudo perdoar

e retribuir

com

amor.

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Obrigado pela leitura;

fiquem com Deus.

Sajob, maio/2015 + 3