A mulher do balanço

E após tanto tempo sentado nesta praça

Coberto de folhas mortas, pombos e esmolas

(Tal figura inacabada, como se fosse um auto-prisioneiro-mendigo)

Sinto areia voando em meus olhos

Desfigurando minha visão

E me obrigando a olhar para algum lugar

Assustado, despreparado, nem pude não olhar

E te vi balançando, arrastando os pés na areia

(Mal sabia que deus pés alcançariam tão longe, como chegaram a mim

Escondido nesta piramide-muralha de retratos antigos...)

Fadigado, desnorteado, nem pude dizer não

E te sonhei nas noites, balançando ao fundo estrelado

(Ela mal sabia que as estrelas brilhavam mais quando ela se aproximava

E se ofuscavam no brilho da moça quando ela voltava)

O encomodo dos olhos não é o da dor

Mas sim o do novo ver, e novo adimirar

Que se tornara estranho após tanto tempo

... E só pude te olhar, e olhando, te enxergar...

É estranho (depois de tanto tempo) acordar pensando naquela cena

De uma mulher que só balançava, e me balançou...

Que de ninguém empurrava, mas me empurrou

Me derrubando de cara no chão, e fazendo desmoronar meu castelo de cartas

(Que já parecia seguro de tão servo, mas como se pode proteger do que vem de dentro??)

E agora, volto ao balanço e sento sozinho

Olhando perdido pra lugar nenhum

Na esperança que ela me venha empurrar

Para juntos, jogarmos areia no mundo

(Que de tão pequeno, agora cabe num copo vazio)

E podermos juntos fazer a chuva beijar noss'alma

The Walker
Enviado por The Walker em 29/01/2009
Reeditado em 29/01/2009
Código do texto: T1410509