A mulher do balanço
E após tanto tempo sentado nesta praça
Coberto de folhas mortas, pombos e esmolas
(Tal figura inacabada, como se fosse um auto-prisioneiro-mendigo)
Sinto areia voando em meus olhos
Desfigurando minha visão
E me obrigando a olhar para algum lugar
Assustado, despreparado, nem pude não olhar
E te vi balançando, arrastando os pés na areia
(Mal sabia que deus pés alcançariam tão longe, como chegaram a mim
Escondido nesta piramide-muralha de retratos antigos...)
Fadigado, desnorteado, nem pude dizer não
E te sonhei nas noites, balançando ao fundo estrelado
(Ela mal sabia que as estrelas brilhavam mais quando ela se aproximava
E se ofuscavam no brilho da moça quando ela voltava)
O encomodo dos olhos não é o da dor
Mas sim o do novo ver, e novo adimirar
Que se tornara estranho após tanto tempo
... E só pude te olhar, e olhando, te enxergar...
É estranho (depois de tanto tempo) acordar pensando naquela cena
De uma mulher que só balançava, e me balançou...
Que de ninguém empurrava, mas me empurrou
Me derrubando de cara no chão, e fazendo desmoronar meu castelo de cartas
(Que já parecia seguro de tão servo, mas como se pode proteger do que vem de dentro??)
E agora, volto ao balanço e sento sozinho
Olhando perdido pra lugar nenhum
Na esperança que ela me venha empurrar
Para juntos, jogarmos areia no mundo
(Que de tão pequeno, agora cabe num copo vazio)
E podermos juntos fazer a chuva beijar noss'alma