RETALHOS DE NOSSOS RETRATOS

“Aos Olhos do PAI”

(Aline Barros)

"Aos olhos do Pai,

Você é uma obra prima

Que ele planejou,

Com suas próprias mãos pintou.

A cor de sua pele

Os seus cabelos desenhou.

Cada detalhe,

Num toque de amor..."

Não são pequenos os retalhos teus nos meus, ou os meus nos teus.

Tal qual um retrato, eu olho os teus olhos, vejo os meus refletidos, meu Deus!

O franzir da testa, fazendo rugas no centro, atesta a nossa não mera semelhança.

Eu e tu, dois em um, formando uma só aliança.

Os teus lábios grossos, herança de duas raças milenares,

és índio e negro, me lembras “Aritana” e “Zumbi dos Palmares”.

Cabelos lisos e finos, os meus, negros como noite sem luar,

os teus, mesclados de prata, como a lua ao romper na mata.

Ah!, nossos narizes (que graça), tem formato de “tomada”.

Pequenos e delicados, diferem dos irmãos lá do congado.

Mãos compridas, dedos longos, unhas perfeitas...que graça!

Nem o serviço pesado que enfrentaste, estragou tão bela obra de arte.

Os pés! Pelo tamanho até posso imaginar...

Tal pai, tal filha, com essas “pranchas” parece que vão surfar.

O sorriso brejeiro não poderia ser menos faceiro.

Gargalhadas límpidas dá prazer de ouvir.

E mesmo à grande distância, teu riso eu posso sentir.

Quantos anos nos separam? 35? Nem parece!

Tu e eu, eu e tu, pai e filha, metades da mesma espécie.

*Poesia dedicada ao meu pai André, que mesmo sofrendo de uma grande enfermidade, continua a sorrir para a vida, aos 82 anos.