Passageiro
Wilson Correia
O meu é um viver de veras tautológico
e é o ser-estar em verdade novidadeiro.
Dizem que quando eu nasci, inusitado,
colocaram-me num perfumado cueiro.
Ranheta, pedi: quero um bom estaleiro.
Hoje tomo cada novo dia por uma barca
e nela me lanço a experienciar o mundo,
sem afogar o novo, esse mar eu abarco.
Na primavera, outono, verão e inverno,
saindo ou chegando, ponho-me ao léu.
Sou o mesmo e sou outro, rumo ao céu.
Ai de ti poste em breu e ao azedo limo!
Que estática seja só a livre correnteza.
O mar vivido é tudo: arriscar, o destino.
Eu quem vai, quem enraíza – novinteiro.
É! Não nasci – plantei-me num estaleiro.