ALBERGUE DA FELICIDADE

ALBERGUE DA FELICIDADE

É lá que eu quero morar,

Faz tempo estou esperando,

Encontrar um lugar

Não é só esperar

Tem que ter relação

De amizade, parentesco,

Sei lá, só sei que é lá

Que eu quero morar

Todo dia eu ligo para lá

E só escuto não tem lugar

Em frente à entrada

Só ouço risadas

Pessoas felizes, me

Fazem ficar emocionada.

Gente diferente da gente

Sinalizam-me a virada

Amigos dizem lá ser

A casa da mãe Joana

Tem bêbado dormindo

No meio da escada

A vovó cochila sentada

Enquanto vê televisão

E esqueceu-se de tomar

O remédio da pressão

Os netos jogam bola

Na sala de visitas

Enquanto os livros esperam

Ser abertos só na escola

Na cozinha tão escura

Cheia de guloseimas

Nada tem gordura

Só quando ela se acumula

Nas curvas da cintura

Da gostosa cozinheira

Não provei a mulher

Só sei que ela é boa na colher

Excelente doceira

Na folga é mesmo rueira

Passeia por todos os becos

Caçando as fofocas

É lá que eu quero morar

Lavar louça nem pensar

Usar até o último copo

E depois gritar:

- Vovó onde está

O descartável?

Acabou o de plástico

Só tem de papel?

Não faz mal

Eu bebo na latinha

Ainda ta limpinha

È só virar a boquinha

Ainda tem um pouco

Da lourinha quentinha

Nada disso, é a cervejinha!

È lá que eu quero morar

À noite poderei espiar

As estrelas pelo furo

Que irei encontrar

Perdido entre as telhas

Quase a se quebrar

De tanto os meninos sapatear

Quando não conseguem

Suas pipas empinar

É lá que eu quero morar

Não precisarei me preocupar

Quanto e quando terei que pagar

Só falta mesmo é ter lugar

A casa da sogra do meu pai

A casa da tia da minha irmã

È lá que eu quero morar

Por acaso você quer trocar

Lá é mais do que um lar

Tem gente de todo jeito

Que vive com dor no peito

Sem maquiagem e sem verniz

Mas é lá que eu vou arrumar

Um jeito de ser mais feliz

Entre as frestas da velha porta

Coberta com velho verniz

Pisar no chão do banheiro

Onde nem sequer tem chuveiro

È lá que eu quero morar

Não tem problema vou dar um jeito

Chamei a mãe do meu amigo

E fiz meu pedido ardente

Ela concedeu-me um tempo

E me ofereceu até aguardente

Quero me misturar com esta gente

Que não tem tanta sofisticação

Que mastiga do outro lado

Pela falta de algum dente

Que chora quando perde algum ente

Gente que sofre e ainda sente

A vida passar com emoção

E consegue se manter decente

Sem essa da elite que só

Vive em confusão

Por tão pouco às vezes

Arma um barraco

Que me faz pensar

Quase que Deus fez um fracasso

Não é só ataque de gente diferente

Que consegue distorcer a realidade

E pensar que pode ser diferente

Gente é sempre gente

Inocente, carente, indecente

É lá que eu quero morar

Só falta arranjar o lugar

Onde, no albergue da felicidade

Na casa dos parentes

O relógio não te acorda

Nada te incomoda

Sem nenhuma responsabilidade

Você vive em plena diversão

Até que a velha te põe para fora

Dizendo que você a explora

Mesmo assim é lá que eu quero morar

Para fugir desta terrível solidão

Que me sufoca

Entre as paredes desta prisão

Que comprime meu coração

Quero sentir o desvelo

De coração companheiro

É lá que eu quero ficar

No albergue da felicidade

Onde a tia Simplória

Faz tudo a tempo e a hora

Já corri este mundo

Mas ainda não encontrei

Melhor abrigo tão amigo

Como este que te contei

Mas se és vagabundo

Vaza daqui, pois não pertence

Ao nosso mundo

E lá não podes ficar

É lá que eu quero morar.

Aradia Rhianon
Enviado por Aradia Rhianon em 03/01/2010
Código do texto: T2008911
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