Ser criança

[Resposta poética a Edgar Alejandro em Dias de Infância]

Ah, meu amigo mais que querido,

não deixe jamais de querer ser criança

e não conseguir mais ver o sentido,

da farra, da ilusão, da esperança.

Fazer parte desse mundo é gostoso,

é daquele jeitinho que sempre foi;

brincar de pega, bater cara manhoso,

pula mula, figurinha, pelada e taca boi.

O sol é bom, é festeiro pra vento e pipa,

a chuva é chapisco de barro na molecada,

a lua, ora, a lua! hora de ranger a ripa

e dar aquele susto legal, na velharada.

É ficar de alegre, sem tomar ciência,

da política, das dores, dessa leseira,

esquecer tudo o que torra a paciência

e comer um monte de doce e besteira.

É ganhar roubado na boleba e no braço,

correr quando a vidraça fica no caminho,

jurar por tudo, que era mamona ou bagaço

e que quem atirou a pedra, foi o vizinho.

Esconder o estilingue, e só usar pras goiabas

do quintal daquele tio, todo resmungão,

dar corrida nos cachorros e nas vagabas

e acabar o detergente na bolinha de sabão.

E mais que tudo, de toda essa gostosura,

de poder se sujar com todos os molhos,

pegar sapo, nadar pelado, sem frescura,

é manter o brilho da ingenuidade nos olhos.