BORGES (inspirado livremente) A MINHA MUSA "

Silêncio

como através da neblina outonal do silêncio

vibro a flor que o mundo dilata, a neblina

pesada da ausência sobre os hortos, a

alface do arquétipo dos teus seios, conta-me

a palha nas letras da palha o corpo da poetisa

contra a parede, corre nas consoantes e vogais

em vão te escrevo oceano, prodigalizando a luz

em vão , a nuvem sustenida por um peixe, o

peixe dourado dos teus olhos virtuais nos meus

há o resíduo do sonho onde falha o amor e grito

alguém teceu as caminhadas na água. Quase não

te vejo, quando desperto, o poema caminha por

Lisboa. Gosto dos teus relógios de sol nas calçadas

Gosto dos elevadores e da serra de Sintra, não aceito

a resignação, faminto escrevo a sede é a História

de quem perde e luta tão sozinho como a lágrima

a saudade revelou-lhe o secreto propósito, infinita

José Gil

José Gil
Enviado por José Gil em 31/10/2006
Código do texto: T278588