BORGES (inspirado livremente) A MINHA MUSA "
Silêncio
como através da neblina outonal do silêncio
vibro a flor que o mundo dilata, a neblina
pesada da ausência sobre os hortos, a
alface do arquétipo dos teus seios, conta-me
a palha nas letras da palha o corpo da poetisa
contra a parede, corre nas consoantes e vogais
em vão te escrevo oceano, prodigalizando a luz
em vão , a nuvem sustenida por um peixe, o
peixe dourado dos teus olhos virtuais nos meus
há o resíduo do sonho onde falha o amor e grito
alguém teceu as caminhadas na água. Quase não
te vejo, quando desperto, o poema caminha por
Lisboa. Gosto dos teus relógios de sol nas calçadas
Gosto dos elevadores e da serra de Sintra, não aceito
a resignação, faminto escrevo a sede é a História
de quem perde e luta tão sozinho como a lágrima
a saudade revelou-lhe o secreto propósito, infinita
José Gil