O RITUAL DO CAFÉ

Estampa-se o sol em delicados raios

Sobre o mármore branco e liso da cozinha.

Suavemente me debruço e uma porta abro,

Recolho a chávena fina e o florido prato.

Ergo o meu braço e num voo livre,

No gesto de um armário desvendar,

Colho o nobre pó de inebriante aroma.

Alongo a mão que a gaveta encontra,

E dela escolho, enfim, a colher mais bela,

Brilhante, pequena, com terno recorte.

Tudo coloco em ordem e harmonia:

O prato tranquilo e a expectante chávena,

Nesta, o torrado grão moído, de castanho intenso.

No açúcar rico, centro o meu cuidado,

A montanha branca transportando, pura,

Em bojuda prata que doce se inclina.

E luzem cristais em cascata linda!

Depois, a água borbulhante, quente,

A mistura inunda, dissolvendo-a,

Em espirais de espuma que a colher adorna.

Café! Café! Precioso encanto!

Em dégagé devant te cumprimento,

Os meus braços lanço em acolhimento grato.

Da janela aberta me acerco então.

Tão bela é a vista que o Outono pinta no jardim!

Castanho da terra e verde das plantas unem-se

À água que brilha em bebedouro antigo.

Aspiro, feliz, da manhã tranquila, o seu odor

A quente café e à relva orvalhada.

Olho o céu e sorvo um gole, outro e outro.

E assim me quedo, por instantes longos.

Entre o prazer forte do café e a doçura da manhã

Mais um dia de vida se inicia!

Ilona Bastos
Enviado por Ilona Bastos em 11/11/2006
Código do texto: T288413