alma índia

como uma alma perdida,

desenganada, iludida,

mesmo não sendo bandida,

estava desguarnecida

e, assim, ficou decidida

a despedir-se da vida

mas ao chegar num riacho,

indo pro despenhadeiro,

o que a absorve primeiro

é o forte brilho de um facho,

mostrando mais de mil cores

(ou será que eram sabores?)

que se interpenetravam

e eram ou se transformavam

num poderoso arco-íris

lembrou-se do deus Osíris,

de Maomé, de Platão,

Buda, Jesus, Salomão,

São Cipriano, Guiné,

e, reunindo sua fé,

viu São Basílio no exílio,

Pedro, Maria e José,

o carpinteiro do mundo

foi quando ouviu lá do fundo

do riacho que reluzia,

pois tudo em volta brilhava,

a voz que ela sabia

que, uma vez escutada,

jamais seria esquecida,

voz que curava ferida,

a voz do amigo Tupã,

que suavemente dizia:

“tu és somente alma índia,

não podes correr vadia,

rumo do despenhadeiro,

temendo o teu paradeiro

veja o nobre coqueiro

que sempre aponta pra cima,

veja teu corpo inteiro,

és pra sempre uma menina –

pega o teu arco e a flecha

e com os cabelos ao vento,

vá dispersar teu alento,

volta pros que te esperam”

Aluizio Rezende
Enviado por Aluizio Rezende em 01/11/2011
Código do texto: T3310375
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