Sol

Em casa estou

Nada faço

À janela vou

E me despedaço.

Num momento me refaço

Pois ali, no espaço

Há uma bola

Amarela, que brilha.

Ontem choveu

O céu era breu

E estava eu

Em minha casa.

Súbito, ouvi

E sobressaltei

O inferno veio à Terra

Começou a guerra

O terremoto

O pânico

O medo

A destruição

A lama

A aflição.

Despertei

Ouvi vozes

Tudo doía

Mal respirava

Tudo estava escuro

Ao meu redor

Dentro de mim

Uma prece fiz:

Senhor, aqui estou

E onde estarei depois

Só Tu o podes dizer

Mas peço-te

Livra-me!

Passaram-se

Minutos

Horas

A vida quis fugir

Não permiti

A consciência quis fugir

Não deixei

A esperança

Quase se vai.

Penso nos parentes

Minha mãe

Meu pai

Meus irmãos

Nos amigos

José, o único leal

Sempre leal

João, enrolou tanto

E agora não vai mesmo me pagar.

Ah! Que dor horrível!

Ouço vozes

Dessa vez mais próximas

Um movimento

Um raio de sol

Vejo a mão

Duas mãos

Erguem-me

Dores

Ar

Gritos

Vivas

Alegria

Estou salvo!

O sol lá está

E eu vivo estou.

O sol lá está

E eu não morri.

Ó sol me ilumine!

Ó vida não me deixe!

Ó Deus pare as chuvas!

Ó sol continue a brilhar!

CARLOS CRUZ – 22/02/1988