Criancice

Há quem diga que a plenitude d’alma

Só se consegue com os tombos da vida.

Mas, creio piamente no contrário.

Os tombos só nos servem de cárcere.

Ficamos reféns de nossos medos

E nos escondemos debaixo da cama

Como cão recém-nascido

Com medo do castigo

Por ter feito xixi no tapete.

Os tombos acabam por ferir mais e mais.

Não deveriam, mas o fazem.

Fazem com tanta maestria

Que o que mais se vê nos dias atuais

São pessoas movidas por tarjas pretas

Ao ponto de babar colorido

Quando não ingeridos.

A massa de depressivos e neuróticos

Cresce tanto quanto diminui o ritmo da felicidade.

Ser feliz não é um ato mágico.

Embora pareça.

Ser feliz é ser criança.

Mesmo com sessenta, setenta anos de idade.

As responsabilidades acabam por nos cortar as asas.

E sem asas, perdemos a capacidade de voar.

Acostumamo-nos a andar com os pés no chão o tempo todo.

Esquecemo-nos do quão bom é brincar

De esconde-esconde com os pensamentos.

Deixamos de lado os “escorregas”, os desenhos animados.

E o que vemos à frente

É somente e tão somente a sombra de um viver.

Responsabilizamo-nos demais com as coisas

E quando vemos, estamos velhos...

Desdentados e tão surdos quanto uma porta.

Já não suportamos o próprio peso

Quem dirá o dos sonhos!

Dizem que quando se é criança

A única preocupação é o presente de Natal.

Há razão neste dizer.

Não se esquenta a criança

Com nada além de seu leite com Toddy

E sua boneca, seu carrinho.

E quando a fome aperta

Um grito “Mãe! Faz miojo?!”

Resolve todos os problemas.

Deveríamos buscar mais criancices.

Rir da própria careta, no espelho.

Faz um bem danado à alma!

O segredo da felicidade

Está por aí.

Espoletar-se entre sonhos e guloseimas.

Forrar o estômago e a alma!

Dar um chute nos monstros

Que teimam em buscar morada debaixo da cama.

Não ter vergonha de sorrir.

Mesmo que na boca só haja dois dentes.

Ou nenhum talvez.

Que mal há nisso?

Afinal, as responsabilidades e as contas,

Ninguém se dispõe, além de você mesmo.

Então, não deixe a velhice chegar,

Para perceber que a felicidade

Está nos olhos

E não nos lábios.

Afinal, dizer-se feliz,

E a coisa mais fácil que existe.

Já sê-lo...

Ah! Isso só para quem não tem medo

De chamar os “monstros”

Para um duelo de risadas.

Daquelas bem gostosas

Que nos fazem perder o ar

E ficar com câimbra na barriga de tanto rir.

Talvez assim sejamos verdadeiramente felizes.

Antes disso...

Pago para ver!

HELOISA ARMANNI
Enviado por HELOISA ARMANNI em 21/04/2013
Código do texto: T4251613
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