"Chorar"

Parei um pouquinho para escrever

Depois de muito tempo, não sei pra quê.

Talvez eu tenha sentido falta, saudade.

Não sei bem ao certo.

Senti um vazio dentro de mim,

Mas é um tipo de vazio que está cheio.

Senti meus sentimentos encherem meu estômago

E ficarem atolados na garganta.

Me perguntei:" Tem alguém ai para me escutar?"

A resposta foi tão plena e simples. Ouvi um não.

Um não vindo dos lábios doce.

Tão doce que não há descrição.

Os lábios de minha amada.

Olhei de um lado para outro procurando alguém.

Mãe? Pai? Onde vocês estão que eu não encontro?

Irmão? Irmã? Dá para vocês me escutarem?

"Não! Estamos ocupados demais com nós mesmos!"

Me afoguei em prantos. E por dias flutuei na superfície.

Gritei bem alto. O mais alto,

Ante que minhas cordas vocais se arrebentassem.

Mas só ouvi a minha voz, ecoando ao fundo.

Então mergulhei e lá no fundo eu me encontrei.

Me veio uma faísca de alegria...

Pensei alto:"Alguém para conversar!"

Mas novamente o peso nas costas, me esmagou...

E meus pensamentos abriram meus olhos.

Eu conversar comigo mesmo? O que isso muda?

Não adianta falar de algo que nós dois sabemos.

Certamente está com o mesmo conflito...

Me aproximei e pensei:" Você está bem?"

E a mesma voz, em meu ouvido, respondeu:"Não."

E de novo o meu coração sentiu a dor.

A dor do abandono, a dor das lágrimas.

Uma dor especial, que nos dá um nó na garganta.

E choramos juntos e juntos gritamos:

"Me ajude! Me escute! Me entenda!"

E antes que morrêssemos no fundo daquele nada.

Antes que a última bolha de ar

Chegasse na superfície.

Um terceiro "eu" mergulhou chorando...

E pensava desesperado:

"Cadê você?! Cadê você?! Apareça!"

E ao me avistar bem ao longe, gritou:

"Te achei!" E uma fumaça de bolhas surgiu de sua boca.

Apressou-se, nadou com muita veracidade em

Minha direção e me abraçou.

Não sei o que aconteceu.

Senti meu coração bater forte.

Senti algo que há tempos não sentia...

Eu senti o amor. Eu senti... Vindo daquele ser.

Então chorei, mas um choro diferente,

Um choro de alegria, um choro de alívio.

E quando ele me olhou, com seus olhos infantís

Derramando lágrimas. Seu sorriso inocente me disse:

"Por que você tentou me esquecer?

Por que me isolou? Por quê? Por quê?!"

Foi neste momento que percebi que aquela criança,

Que tinha minha aparência.

Era na verdade minha felicidade

E aquele que estava do meu lado,

Era na realidade minha angústia.

Novamente aquela criança me interrompeu:

"Eu estava com medo. Não tinha ninguém em nunhum lugar.

Te procurei por todos os lados, mas... Nada...

Eu corria e corria, e quanto mais corria,

Mais a fundo eu entrava, e bem no fundo te achei.

Vamos sair daqui, estou com fome

E ainda estou com medo.

Aqui é lugar da desilusão.

Vamos sair e ir para bem longe.

Você cuida de mim e eu te faço feliz.

Nunca mais tente me esquecer.

Nunca mais me aprisione.

Nunca mais se esconda ou fuja de mim.

Como você pode fazer algo tão cruel assim comigo?

Eu sempre estive do seu lado nos momentos

Mais dolorosos de nossa vida. Fui eu!

Fui eu que te levantei quando

Você pensava que tudo tinha acabado.

Fui eu que te fez bem

Na sua primeira festa surpresa.

Fui eu que te fez sentir-se melhor

No seu primeiro beijo, sua primeira namorada."

Então senti uma mão macia e pequena

Puxar o meu braço para fugir. Mas algo me prendia.

Olhei para trás e minha angústia

Não me soltava, e sussurrando disse:"Você não vai."

Me assustei quando percebi que no

Lugar onde deveria ter pernas, havia raízes.

A angústia estava enraizada e sem perceber

Molhei suas raízes com um regador de ouro.

E então chorei, chorei de tristeza,

Por saber que eu estava ali

Por minha própria atitude,

Logo ela que era feita de ouro...

Foi ai que senti um beijo dos lábios delicados...

Um beijo macio em meu rosto.

Aos soluços virei para ver quem era.

Aquela criança me abraçou e disse:

"Pode chorar estou aqui do seu lado."

Eu não aguentei chorei, chorei tanto

Que senti meu corpo ficar mais leve.

Meus olhos inchados e vermelhos vareu aquela criança.

Me dei conta que a angútia tinha desaparecido.

Nem um traço de sua existência, nem uma raíz.

Foi aí que abraçei aquele pequeno anjo. E falei:

"Me perdo-e e Obrigado. Vamos, você está com fome."

E subimos, rumo ao céu aberto e límpido.

Subimos para uma vida melhor,

Para momentos melhores,

Para futuros melhores.