VISTES?

(OU O CANTO DA LIBERDADE)

Esta afirmação, fizeram-na, em longes dias.

Talvez para poupar tempo ou energia

No escrever, no falar, enfim... no comunicar.

Eis o que afirmou o dito popular:

“Uma imagem vale por mil palavras”,

Mas, isso, pretendo contestar!

Como?! havereis de me perguntar.

Como?!

Pretendes destruir um dito popular?!

Uma verdade sacramentada, sepultar?!

Ah! pobre ignaro... pagaremos p’ra te ver tentar!

Prestai atenção, concidadãos:

Se vísseis uma pobre avezinha, e indefesa,

Encantoada, aterrorizada por um felino, um gato,

Que “malvadeza” pudesse ser chamado,

Pronto para um conseqüente e tão próximo ato...

E quase a escutardes da mastigação, os sons;

A verdes, da pobre avezinha, o sangue a manchar o chão,

Sentiríeis, por certo, imensa dor no coração!

Ah! vós que sois os predadores dos predadores,

Procuraríeis, por certo, evitar as dores – da ave e de vós próprios!

E não importa o porquê.

Engendraríeis, ali, na hora, a estratégia miraculosa.

Era evitar o bater de asas, o alçar de vôo.

Ah! concidadãos: o instinto!

Tomaríeis, então, do gato, a mesma posição.

Alinhados, tivessem, todos, diferente percepção:

A avezinha, de ajuda, de salvação,

O gato, de ataque a traição,

Se tentasse consumar a, antes, tão saborosa intenção.

E vós, de donos da situação.

Teríeis, pois, o gato imóvel.

Nas mãos, tomaríeis a avezinha.

Da pobrezinha, paralisada até então,

Sentiríeis o pulsar forte do coração.

Entre vossas mãos, à aberta janela, levaríeis

Exultantes da salvação, a ave: que bela!

E fitando o brilhante céu da primavera,

Admiraríeis um vôo – antes, uma quimera!

Bem-te-vi! Bem-te-vi!! Bem-te-vi!!!, ouviríeis...

Ficaríeis certos de que o canto

Não era senão de agradecimento.

Mil palavras, portanto, não bastariam,

Pois, do coração, não revelariam

A distinção do contentamento.

Eis por que, concidadãos!

Mil palavras não descreveriam

As emoções que ave e homem sentiriam,

Nem as do gato indiferente, proporiam.

Vistes então? é preciso não mil, mas milhão!

Para descrever o que sente o coração.