OBRIGADA À VIDA
Obrigada à vida, que já me deu tanto!
Deu-me estes dois olhos e, quando os abro,
vejo as cores todas, o preto e o branco,
o céu estrelado, como um longo manto,
e nele o homem que eu amo.
Obrigada à vida, que já me deu tanto!
Deu-me o dom de ouvir, ouço a humanidade
e os sons da Natureza: canários, cigarras, martelos,
turbinas e tempestade...
E a voz tão terna do meu bem-amado.
Obrigada à vida, que já me deu tanto!
Deu-me esta garganta, a fala e o abecedário
e mais as palavras que penso e declaro:
mãe, amigo, irmão... e luz me guiando rumo
à alma querida de quem estou amando.
Obrigada à vida, que já me deu tanto!
Deu-me a caminhada de meus pés cansados.
Eles percorreram cidades, planícies,
praias e desertos, montanhas e prados,
e também tua rua, teu jardim, tua casa.
Obrigada à vida, que já me deu tanto!
Coração, no peito, bate emocionado,
contemplando os frutos do espírito humano,
contemplando o bel e o mal, tão distanciados,
contemplando o íntimo dos teus olhos claros.
Obrigada à vida, que já me deu tanto!
Deu-me o sorriso e também o pranto,
com eles distingo a aflição e o encanto,
- os dois materiais que formam meu canto,
- o canto do povo, que é este mesmo canto.
E o canto de todos, que é o meu próprio canto.
Autora: Violeta Parra
A tradução do poema é minha.
Lamentavelmente, suicidou-se aos 49 anos, essa importante poetisa chilena.