OBRIGADA À VIDA

Obrigada à vida, que já me deu tanto!

Deu-me estes dois olhos e, quando os abro,

vejo as cores todas, o preto e o branco,

o céu estrelado, como um longo manto,

e nele o homem que eu amo.

Obrigada à vida, que já me deu tanto!

Deu-me o dom de ouvir, ouço a humanidade

e os sons da Natureza: canários, cigarras, martelos,

turbinas e tempestade...

E a voz tão terna do meu bem-amado.

Obrigada à vida, que já me deu tanto!

Deu-me esta garganta, a fala e o abecedário

e mais as palavras que penso e declaro:

mãe, amigo, irmão... e luz me guiando rumo

à alma querida de quem estou amando.

Obrigada à vida, que já me deu tanto!

Deu-me a caminhada de meus pés cansados.

Eles percorreram cidades, planícies,

praias e desertos, montanhas e prados,

e também tua rua, teu jardim, tua casa.

Obrigada à vida, que já me deu tanto!

Coração, no peito, bate emocionado,

contemplando os frutos do espírito humano,

contemplando o bel e o mal, tão distanciados,

contemplando o íntimo dos teus olhos claros.

Obrigada à vida, que já me deu tanto!

Deu-me o sorriso e também o pranto,

com eles distingo a aflição e o encanto,

- os dois materiais que formam meu canto,

- o canto do povo, que é este mesmo canto.

E o canto de todos, que é o meu próprio canto.

Autora: Violeta Parra

A tradução do poema é minha.

Lamentavelmente, suicidou-se aos 49 anos, essa importante poetisa chilena.

VIOLETA PARRA
Enviado por Zilmar Pires em 17/04/2018
Reeditado em 27/04/2018
Código do texto: T6311577
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