Marraquexe

Eu canto o instante já, aqui e agora.

Eu verso a vida, a morte, até cerveja.

Eu tenho boca boa que me beija,

Caneta, prato, garfo, chá, colher...

Em casa tenho gado e hortaliças;

Capado bom, capim gordura, leite...

Pomar, galinha, linho, mel, azeite

E vinho vindo lá de Marraquexe.

Eu sonho a vida como sonha um peixe

No fundo do oceano da lagoa.

Eu sou assim, eu sou quem não conhece

Tristeza nessa terra grande e boa.

O sol me aquenta a tarde, a noite vejo

O céu coberto em brumas, estrelado;

O gado já pastando no relvado...

Viver feliz assim jamais tem preço.

O meu semblante calmo, frio e teso

Reflete minha calma transparente.

Eu vou de galho em galho e, de repente,

Eu faço um verso e conto meu passado.

Talvez eu seja errado em certo ponto.

O ponto certo é aquele que eu descubro.

Vasculho ponte, muro, cemitério...

Aguardo o sol se pôr detrás do monte.

Se acaso sonho um sonho diferente,

No ocaso dessa vida tão medonha,

Eu peço a Deus que vista o meu presente

Do sonho que o futuro sempre sonha.

Aguardo meu destino, minha sorte.

A cada dia faço a despedida.

Ao Céu eu agradeço o dom da vida

E peço a Deus que seja boa... A morte.

Gil Ferrys
Enviado por Gil Ferrys em 06/02/2019
Código do texto: T6568530
Classificação de conteúdo: seguro