Vida, não teve Largada!

Já me encontrava à toda na primeira reta.

À direita, na parte baixa da pista, um carro vermelho berrava.

Na esquerda, querendo chegar primeiro na curva,

Acompanhava-me o muro, alvo, mudo, concreto. Com seus dois metros de altura.

A Curva.

Eu e o Muro!

O carro vermelho, nem me preocupava.

Tangência atraindo-me pra fora.

Passamos. Todos juntos.

Rumo à segunda reta.

Por milagre, dentro da rota.

Acelera!

Vermelhinho, ousado, se apresenta.

Pé pisando na tábua!

Segunda reta, segunda curva. Tangência!

Como a pena de um poeta, meu pneu dianteiro direito,

Em câmara lenta, riscou de leve a alvura,

Daquela grande parede branca.

Bravura!

Aceleeeera!

Curva novamente se aproxima.

..........................

........................

......................

Agora, respiremos.

Esta só foi uma volta completa das duzentas voltas,

De uma prova completa, em um circuito oval de corrida.

Poderia ser, também, a fórmula secreta de uma boa vida.

Para intensamente vivermos, como se fosse o último dia.

E os muros e os carros vermelhos

Estão aí para valorizar as nossas voltas,

Na corrida de cada um pela vida.

Adônis
Enviado por Adônis em 27/10/2019
Reeditado em 30/10/2019
Código do texto: T6780605
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2019. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.