Correndo
“Correndo”
Na infância
Todos correm
Pique e pega
Esconde-esconde
Leves são aqueles que permanecem
No futebol
Em torno das quadras
Nas praças e praias
Porém alguns são escolhidos
Pela santidade de alongar
E se deixar ir
Por caminhos sempre novos
A pista é rotina
Concentração e força
O asfalto é hábito
De sentir o pé em mata-borrão
Mas o tempo é irredutível
Ele passa largo
E só quem dosa
Pode conviver com as endorfinas
Descidas são rápidas
Mas machucam quem não senta no corpo
Subidas desgastam o coração
E diferenciam os resolutos dos apressados
Nas retas é que vejo
Quem realmente aprecia
O desarrolar da carruagem
Vai e não aumenta e nem diminui
Os primeiros cinco mil metros
São como conversa de comadres
Importante e sem valor
Aquecimento
Se for veloz,
Menos de vinte minutos bastarão
Mas não encontrará o nirvana
De cavalgar solene, além dos 10km
Em menos de uma hora, já estou alegre
Agora só resta, observar a paisagem
Metade das músicas que conheço
Canto para mim
Para lá dos vinte
Tudo é relativo
Até as necessidades fisiológicas
São irrelevantes
Na barreira do 30 aos 35
Saio do meu eu
E restabeleço contatos
Com meu futuro e passado
Sinto-me super, agora
Já passam dos quarenta
Na idade, nas estradas
Anestesiado estou
Pernas esculpidas a cinzel de infinitos treinos
Peito cheio de alvéolos e sangue fluindo
Incho de energia vital
Uma maratona é algo incomum
Poucos conseguirão imaginar esse prazer
Raros irão terminá-la
Então porque escrevo?
Se atinjo apenas exceções?
Aí está o segredo
Basta correr meus amigos
Suar um pouquinho
Para sentir tudo que já passei
Pois o grande barato
Não está onde as passadas levam
Nem quando, ou mesmo o porquê
Basta sair correndo, que você já chegou lá.
JB Alencastro