Eu sou um sonho?

Antes mesmo de nascer, sonharam comigo.

Sonharam-me forte e bonito,

Branco, gordo e luzidio;

Sonharam como faria,

Um dia, se fosse grande;

Sonharam, até, se eu seria

Padre, soldado ou doutor.

Terminei indo pro sul,

“P’ro mode” enganar os trouxas.

Quis ser santo, por um tempo,

Mas sem nenhum incentivo,

A santice não durou.

Nem me recordo direito,

Que fim este sonho levou.

Aí, já era eu quem sonhava

E, até hoje, tenho um,

Meio encardido e puído

De tanto que foi sonhado.

Os meus sonhos mais bonitos

Quase todos se perderam.

Eram pedaços bons demais

De alma, para eu sonhar.

Os sonhava de teimoso

Sempre antes de dormir

Que sempre é a hora melhor,

Que a gente tem p’rá sonhar.

Sonhei ser árvore um dia,

Dar frutos, dar sombra às gentes

Que passavam na estrada.

Esse, eu sei como acabou.

Um dia, não sei bem quando,

Quase que virei fumaça

Com a árvore de meu sonho

Que alguém veio e cortou.

Fui sonho. Mas quem não foi?

Disse o poeta do palco.

Se não disse, disse agora,

Neste meu verso capenga.

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