A ti, árvore.

Não me falem de magia dessa vez, por favor:

Sei que o que ali cintila é real.

Caçado pelo tempo

E predador do inesperado

Veja que nesse rosto malfado

Por dentro há um peito

E, agora real, pode ver o clarão.

Te pergunto, pequeno destino, por que te calas?

Poderias muito bem ter-me feito mago

E num jogo de ilusões

Iludir-me em realidade

Mas se fizestes isso

Impedir-me-ia de ver o que agora vejo

O que cintila não é produto sem coesão

Sabemos que tem concisão

Tanto sabes tu, ó destino, que se um dia

Se tive raiva, tu entendes que nada que mora em meu peito

É hoje menor do que um dia um foi

E quanto vivi...

Antes de discorrer por vezes - pois, repito:

Não sou poeta - volto;

O que cintila ali é real,

Pois há dentro desse bosque centenas de árvores

Dessas quais milhões de irreais são reais para alguns;

Porém não para mim.

Sabes tu o quanto sou lúcido

Vejo apenas uma translúcida

E digo-te:

Sei mais das árvores do que elas mesmas de si

E só tu sabes disso.

Por quanto tempo guardei minhas palavras

Só os ventos sabem, pois as carregam.

Um dia eu encontrei um ouvido - ouvirá a árvore que não tem sentidos?

Absurdo seria negar que o sentido maior da natureza

É viver desse sentido nenhum.

O quanto aquela árvore vive sem saber

O quanto ama sem desejar

E o quanto sabe do não saber

Isso, isso nem tu, ó poderoso destino, sabe;

Só eu sei.

Peço-te: faz do meu discurso uma prece;

Faz com que o Deus das árvores seja o mensageiro

E leve o que peço (não o que digo) -

Pedir e dizer não se confundem,

Pois o que peço é o que tenho dentro de mim,

Que é muito maior que qualquer palavra

Diego Guimarães Camargo
Enviado por Diego Guimarães Camargo em 29/05/2008
Código do texto: T1009908