Dê um Sorriso

Nos conhecemos ainda pequeninos

E ali surgiu nossa amizade.

Crescíamos

E junto conosco, ela também crescia.

Lembro-me das bangunças que fazíamos,

Das maluquices que aprontávamos,

Das bobagens que falávamos,

Das nossas brincadeiras, e também,

Das nossas brigas e discussões.

E sinto uma saudade tremenda daqueles tempos.

Tempo em que podíamos ser o que quiséssemos,

E, de certa forma, éramos.

Lembro daquela vez que alguns meninos tentaram me bater

Na saída da escola, e que, quando viste, correste para me ajudar.

Acabamos apanhando, é verdade.

E é verdade também, que não havia dor alguma depois que disseste:

"- Pelo menos não bateram em ti sozinho."

E lembro também daquele dia em que quebraste o vaso do altar da santa,

Na capela da escola.

Nossa mãe! Já estavas por um fio, prestes a ser desligado.

Eu assumi a culpa.

Quinze dias de suspensão, um vaso a pagar,

E um mês de castigo, sem direito a sair na rua e sem desenho.

Que tortura! Mas valeu à pena.

Sabia que, quando castigo passasse, te encontraria novamente na escola.

Anos passaram-se e chegou a adolescência

E com ela a puberdade, o interesse pelas garotas,

O desejo pelo sexo, e também as bebedeiras.

Lembras como mentíamos quando nossas namoradas desconfiavam de nós?

Eu mentia para tua. Tu para minha. E ambos para as nossas.

Sempre foi assim, um acobertando as malandragens do outro.

E quando nossas namoradas engravidaram!

Ficamos loucos. Procurávamos qualquer tipo de trabalho.

Fomos garçons, flanelinhas, auxiliares de pedreiro, carregadores de feira, garis, vigilantes.

Corríamos para o que desse um pouco mais de dinheiro.

Até que arrumaste um trabalho fixo, e eu continuei no pinga-pinga.

Quando nossos filhos nasceram, foi tudo alegria.

O meu nasceu com sérias complicações

E meu dinheiro mal dava pra pagar o tratamento dele e manter minha família.

E tu, sempre que podias, me dava uma quantia e dizia:

"- Isso é um presente para o meu sobrinho."

Ele se recuperou, graças a Deus e a tua ajuda.

Até hoje te sou grato por isso.

Nossos filhos cresciam e, como foi conosco, a amizade deles também.

Hoje, cinqüenta anos após nos conhecermos, aqui estou

No lugar onde nunca pretendi estar,

Velando teu sono eterno.

Sofrendo com a idéia de que perdi uma das mais importantes pessoas da minha vida.

Uma pessoa que apanhou por mim, que sofreu comigo,

Que ajudou cuidar do meu filho, que me abraçava nas horas em que mais precisava

E que curava todas as minhas dores, angústias e tristezas

Quando olhava pra mim, sorrindo, e dizia:

"- Nada no mundo merece que fiques triste.

Levante a cabeça. Vamos dar a volta por cima.

Lembre-se que sou seu amigo e que podes contar comigo sempre que precisar!

Assim como sei que és meu amigo, um grande irmão.

E que darias tua vida por mim, se isso fosse necessário.

Ande homem, faça-me feliz:

Dê um sorriso!

Robespierre Araújo Silva
Enviado por Robespierre Araújo Silva em 22/05/2006
Reeditado em 24/10/2009
Código do texto: T160851
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