Casa na praia

Ao leres qualquer trecho de meus íntimos ou tolos pensamentos perceberás a presença do mar como refúgio de recorrente felicidade.

Sou invadido de alegria ao lembrar da praia.

Contato com o oceano evoca sorriso de plenitude.

Antes de ler Neruda, já fora seduzido pelas ondas e seus movimentos.

São elas e sua maestria forma que evoco a cada rima pobre de parco texto carente de maior erudição.

A orla agora figura em minhas lembranças infantis revelando-se de formas diversas.

Não ria.

Recordo de cavar buracos na areia frente ao mar, procurando, acreditem, água.

Minha memória é invadida de aromas e sabores.

Cheiro de pastéis, empadas quase sempre saboreados com areia e picolés de suco congelado lambuzando a cara risonha e desdentada de criança traquina com nariz de hipoglós.

Ao passar dos anos fui tomado por amores de verão.

Como era maravilhoso jurar amor por no máximo dois meses.

As amizades essas sim, eternas, o vizinho solista do outro lado do mesmo Estado justaposto como velho amigo.

Alguns fios de cabelo branco e o desejo de uma casa maior, melhor uma pousada para familiares, amigos e amigos de amigos meus.

Espero ansiosos dez, onze meses por esse convívio.

A casa da praia é dotada de harmonia, companheirismo, cumplicidade disposta em acomodações e móveis simples.

Mobiliário quase sempre rejeitado do nosso cotidiano, excomungado ao ostracismo desse retiro de poltronas e sofás camas confortáveis, da forma de nosso corpo e do tamanho de nossa preguiça.

A casa de portas abertas como meus braços demonstrando flagrante e caloroso acolhimento, recepcionados sobre chuva de afagos e convites ao carteado.

Não imagino outro lugar onde canastra, dorminhoco e pife sejam elevados à categoria de diversão.

Pretendo morar na praia, junto às dunas amadurecer, acompanhando lentamente suas modificações, em cumplicidade envelhecermos juntos.

Rogo que a brisa traga mais contentamento a cada grão de areia de minha vida junto a essa utopia.

Espero partir na companhia do mar cercados de amores, amigos, sentados na areia admirando o último crepúsculo de minha vida.

Vinícius Vanir Venturini
Enviado por Vinícius Vanir Venturini em 09/07/2009
Código do texto: T1689894
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