Necessidades da Vida

Acabou-se o brilho, perdeu-se o encanto

Na perda do teu sorriso descrevi meu pranto

Fiquei como a flor murcha sem perfume

Do meu sarcasmo construí meu estrume

em que me deitei e vi nascer

raízes e bichos

Te falei um dia

da pureza das crianças

Te falei um dia

da pureza dos teus olhos

Mas não falei da chuva fina

que suaviza nosso ódio

Não falei da dor de ver um amigo destruído

Não falei do desespero e da dor do fim

Ao tentar a morte precoce, me encontrei

Longe de ti minhas lágrimas chorei

E nas minhas lágrimas afundei meu corpo

Preciso te falar... Preciso te falar...

Dos sonhos de criança, da brisa marítima,

da serenidade celeste, da força da terra

e da inquietação humana

Preciso te falar...

Dos espíritos que andam pelos corpos

indo e vindo sem fiscalização

Preciso te falar...

Dos Casmurros, Paulos, Estácios,

Fernandos, Betos que há dentro dos homens

Preciso te falar...

Da insegurança que faz tremer o corpo

e estrangula nossa fé

Preciso me soltar das correntes de ar

Preciso me soltar do sangue e da carne

Preciso me soltar do tempo

Preciso me soltar dos fantasmas

que habitam na casa vazia

Eu quero o oxigênio puro

que saí da tua boca

Quero tua palavra precisa

que coagula meu sangue

Quero minha rosa cândida

do meu jardim perdido.

Henrique Rodrigues Soares - Romaria Lírica