Amigo

Amigo 1.

Amigo, toma para ti o que quiseres,

passeia o teu olhar pelos meus recantos,

e se assim o desejas, dou-te a alma inteira,

com suas brancas avenidas e canções.

2.

Amigo - faz com que na tarde se desvaneça

este inútil e velho desejo de vencer.

Bebe do meu cântaro se tens sede.

Amigo - faz com que na tarde se desvaneça

este desejo de que todas as roseiras

me pertençam.

Amigo,

se tens fome come do meu pão.

3.

Tudo, amigo, o fiz para ti. Tudo isto

que sem olhares verás na minha casa vazia:

tudo isto que sobe pelo muros direitos

- como o meu coração - sempre buscando altura.

Sorris-te - amigo. Que importa! Ninguém sabe

entregar nas mãos o que se esconde dentro,

mas eu dou-te a alma, ânfora de suaves néctares,

e toda eu ta dou... Menos aquela lembrança...

... Que na minha herdade vazia aquele amor perdido

é uma rosa branca que se abre em silêncio...

Pablo Neruda

Poeta Dom Casmurro
Enviado por Poeta Dom Casmurro em 29/10/2011
Código do texto: T3305650
Classificação de conteúdo: seguro