A Madame Du Chatelêt sobre a AMIZADE
Se quereis que ainda ame agora,
Tornai-me à idade do amor.
Dos meus dias ao sol-pôr
Que brilhe uma nova aurora.
O Tempo tem-me cativo,
E manda que eu não mais vá
Onde quer que o ébrio Divo
Com Amor reinando está.
De tão dura austeridade
Tiremos algum valor:
Quem não vive a sua idade
Dela sofre só a dor.
À juventude deixemos
Suas paixões sem juízo:
Só dois momentos vivemos:
Seja um deles o do sizo.
Para sempre me deixais,
Ternura, ilusões, loucuras!
Dons do céu, que consolais
Do vivente as amarguras!
Duas vezes nós morremos:
Não amar nem ser amável —
Oh, que morte insuportável:
Deixar a vida é o menos.
Assim a perda eu chorava
Dos erros da juventude;
E minha alma lamentava
Suas fugas à virtude.
A Amizade veio então
Em meu socorro, superna.
Como o Amor será tão terna,
Mas mais viva que ele... não.
Tocado de luz tão bela,
E de tamanha beleza,
Seguia-a, mas na tristeza
De não seguir mais do que ela.