Corifeu
Ao José Gil
«o caminho será simples e leve (...), bebo-o distante das árvores e do oceano,»
José Gil
Há sempre um dedo a apontar para o mapa
de todas as paisagens mecânicas
caminhos erráticos dos homens
tranquilamente esperando o comboio sempre desencontrado.
Percorres esses caminhos
com a simplicidade dos simples
que nada querem da vida nem da morte.
Pobres sombras,
arrastando o último Sol
como quem arranca crostas de chagas
não esquecidas das bofetadas que sangram
abominações sofridas.
como se fosses o corifeu
desta tragicomédia em cena permanente
viajas com os dedos suados
acariciando fantasmas
que tapam o frio sem pão das bocas que beijas
e desviam a tua cabeça
dos corpos das mulheres desenhadas
na berma dos teus caminhos simples e leves
Ah Como gostaria de te acompanhar!
Ao invés de andar
com o cio da noite guardado no espanto
de fingir uma dor, que esconda,
a verdadeira dor de viver neste país
em transe de queda
Manuel C. Amor
Cidade da Horta, Abril, 2007.