QUIETUDE DA AMIZADE
E no correr desenfreado dos ponteiros
De um tão soberbo e apressado relógio
Vêm-se os dias atropelando-se ligeiros
Carregando dos amigos a presença que, a contragosto, me despojo
E no emaranhado de um sem número de afazeres
De um período caloroso e conturbado
Pelas mudanças salutares em que me vejo
Recebo um convite tão querido e esperado
Teremos o nosso novo sarau, disse ele
E veio dizer-se em meio a ferramentas e boa vontade
Ajudando-me na mudança e na bagunça de um apartamento vazio ainda
Lembrando-me o quão senil já estava a minha saudade
Senil pelo longo tempo que essa saudade cá já se encontrava
E meu peito, ocupado com as passadas do dia-dia,
Pesava estranho e, com alguma dificuldade, batia
Sem se aperceber que era a quietude da nossa amizade que lhe faltava
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OBS: Sobre a saudade de um grande amigo, e a turbulência dos afazeres que algumas vezes atropelam os nossos encontros.