A MÃO
É só um muro
E naquele muro tem muito desenho
Olhando daqui da janela até parece lindo
Mas quando fui lá perto
É um só desalinho
O homem que da janela vi é este lascado
Foi no barro que soltou
Caiu o barro e ficou este homem
homem que a mim assustou
olhei pro lado procurei o portão
mas portão não tem é só um desenho com uma mão
é a mão do homem
que se formou no lascado de onde o barro caiu
procuro procuro mas o homem não mais vi
nem o portão se abriu para mim
mas eu juro que vi até me lembrei do Joaquim
Homem maldito
Que assustava as crianças com seu modo de andar
Aquelas botas vermelhas ele nem precisava avisar que estava a chegar
se as crianças olhavam para baixo as botas vermelhas
se olhavam para o alto viam o chapéu
que muito temiam
Quando pela rua passava
ele não era curvado mas sua anca entortava
lá no fim da rua tem uma escada ele fica lá para arrumar namorada
mas a moçada observa ao longe
e todas comentam
Que o chapéu não lhe fica bem
E todas sorriem dizendo não sei porque usa chapéu se tanto cabelo tem
pois aquele cabelo enfeita-o bem
Com tanto cabelo usar chapéu é um desatino
Mas lá no muro ele não tem botas e nem chapéu
é só um homem exposto ao leu
não vou olhar mais naquela direção
pois ver ilusão não dá pão a ninguém
mas não resisti voltei a olhar
mas o maldito homem mudou de lugar
Olhei olhei para ver se andava
mas ele ficou com a cara abaixada
Olhei para ver o que ele procurava
Procurava a fenda do muro parecia que andava
foi ai que vi que a bota brilhava
Quando acordei a cabeça doía
Quando olhei no espelho o homem sorria
Até lavei o rosto com água fria
Pois não quero mais sonhar
Já está dia